Em tempos em que Moçambique busca impulsionar o turismo interno e promover a redescoberta das suas maravilhas naturais, um novo desafio se impõe: a crise operacional da Linhas Aéreas de Moçambique (LAM).
Com apenas três aviões actualmente em operação, a principal companhia aérea nacional enfrenta cancelamentos e reprogramações constantes, comprometendo seriamente a mobilidade de passageiros entre as províncias e afectando directamente o fluxo turístico interno.
Durante uma conferência de imprensa realizada a 24 de Abril, Alfredo Cossa, porta-voz da LAM, reconheceu publicamente a gravidade da situação. Segundo explicou, a retirada abrupta de dois aparelhos CRJ 900, anteriormente alugados à operadora sul-africana CemAir, reduziu drasticamente a capacidade da companhia para escoar passageiros.
“Estamos com constantes reprogramações de voos e essas reprogramações constam de um processo de cancelamento. Estamos a ter cancelamentos e reprogramações por falta de capacidade de escoamento de passageiros”, declarou Cossa.
A frota activa resume-se agora a dois Embraer 145, com 50 lugares cada, e uma aeronave adicional de 37 lugares, cuja operação é irregular. Este colapso logístico tem impactado particularmente as rotas domésticas mais estratégicas, como a ligação entre Maputo e Quelimane, cujo cancelamento recente afectou centenas de passageiros.
Impactos profundos no turismo doméstico
Para um país que quer apostar no turismo como motor de crescimento económico, a instabilidade aérea representa um golpe severo.
Destinos como Ilha de Moçambique, Parque Nacional da Gorongosa, Vilankulo, Pemba e Quirimbas, que dependem fortemente da ligação aérea para atrair visitantes internacionais e nacionais, enfrentam uma nova ameaça: a redução do número de turistas devido à dificuldade de acesso.
Hotéis, operadores turísticos, restaurantes e guias locais sentem já os primeiros sinais de desaceleração.
O turismo doméstico, essencial para garantir a sustentabilidade do sector em tempos de crise internacional, corre o risco de perder dinamismo e competitividade.
Soluções em perspectiva: esperança ou incerteza?
Em resposta à crise, a LAM anunciou estar em negociações com potenciais parceiros estratégicos para reforçar a sua frota e garantir a continuidade das operações.
Ainda no início deste ano, foi lançado um concurso para a contratação de aeronaves dos modelos Embraer ERJ190 e Boeing 737-700. Apesar do entusiasmo inicial, até agora não foram divulgados resultados concretos.
Adicionalmente, o Governo aprovou a venda de 91% da participação estatal na LAM a empresas públicas nacionais, com a expectativa de financiar a aquisição de oito novos aviões — medida que poderá redefinir o futuro da aviação comercial moçambicana, mas cujos efeitos práticos ainda aguardam materialização.
Um momento decisivo para o Turismo Nacional
Moçambique é um país de riquezas imensas: praias intocadas, savanas vibrantes, cultura pulsante e hospitalidade calorosa.
Mas para que o turismo doméstico floresça, é vital garantir acessibilidade, segurança e regularidade nas ligações aéreas.
A actual crise da LAM serve como um lembrete urgente de que o sector da aviação é um pilar fundamental para o crescimento do turismo interno e para a coesão nacional.
Mais do que nunca, é tempo de apostar na revitalização da aviação, de fomentar a mobilidade interna e de fazer do turismo doméstico uma verdadeira locomotiva para o futuro de Moçambique.