Entre as paisagens áridas da região do Lago Eyasi, no norte da Tanzânia, vive um dos últimos povos caçadores-colectores da África: os Hadzabe. Com uma história que remonta a mais de 40.000 anos, este grupo fascinante é considerado um dos povos mais antigos do mundo — vivendo ainda hoje em harmonia com a natureza, tal como os seus antepassados viveram durante milénios.
Para quem viaja em busca de experiências autênticas e culturais na África, visitar os Hadzabe é mergulhar num modo de vida radicalmente diferente do mundo moderno. Eles não cultivam, não criam animais, não têm calendário nem relógio. Caçam com arcos feitos à mão, colhem frutos e raízes, dormem ao relento ou sob abrigos simples de galhos e folhas. E, sobretudo, vivem o presente com uma leveza rara de se ver.
A visita à comunidade Hadzabe, geralmente organizada a partir da cidade de Karatu ou como parte de um roteiro pelo circuito norte da Tanzânia (que inclui Ngorongoro, Serengeti e Tarangire), é feita com o acompanhamento de guias locais especializados, que ajudam na tradução da língua hadza — um idioma riquíssimo, com sons de estalos e cliques, como o Kung dos bosquímanos do Kalahari.
Ao chegar ao território Hadzabe, os visitantes são recebidos com curiosidade e sorrisos tímidos. Depois de um rápido momento de adaptação, começa a partilha: os homens mostram como produzem fogo com madeira e fricção, como fazem as pontas de flechas com ferramentas rudimentares, e como rastreiam animais. Se a visita for matinal, é possível até acompanhar uma caçada real — geralmente de pequenos animais como esquilos, pássaros e antílopes de pequeno porte. Já as mulheres partilham conhecimentos sobre raízes medicinais, frutas silvestres e a arte de colher mel em árvores altas.
Mais do que um espectáculo, essa vivência é uma troca de mundos. O visitante não é tratado como turista, mas como convidado para observar, escutar e aprender. A simplicidade e profundidade da vida Hadzabe desafiam a lógica consumista e acelerada da modernidade. É um encontro que convida à reflexão sobre o que é realmente essencial.
Além disso, o turismo junto aos Hadzabe — quando feito de forma ética e sustentável — tem se mostrado uma forma de preservar a cultura desse povo ameaçado por pressões externas, como a expansão agrícola e o desaparecimento de seu território tradicional. Os projectos turísticos que respeitam os modos de vida locais ajudam a gerar renda e também a valorizar o conhecimento ancestral que os Hadzabe possuem sobre a natureza.
Do ponto de vista do viajante consciente, essa experiência não é apenas turismo: é educação intercultural, respeito e reconexão com a essência humana.